A escolha dos filmes reunidos nesta sessão Latina traçam caminhos distintos, mas profundamente entrelaçados pela força política e poética do olhar cinematográfico latinoamericano. "Exento", de Otto Morales, e "Carne de Dios", de Patricio Plaza, aproximam-se ao explorar, cada um a seu modo, experiências ligadas à sexualidade e ao corpo: o primeiro revela os espaços clandestinos da sociabilidade LGBTQIAPN+ em Havana (Cuba) como território de desejo e trauma; o segundo tensiona os limites entre fé, erotismo e poder num México colonial, onde um ritual indígena confronta a rigidez evangelizadora. Já "Jejui", de Nancy García Vargas, e "Memorando", de Jennifer Lara, refletem as feridas deixadas por regimes ditatoriais. Enquanto o primeiro denuncia a tortura policial no Paraguai de Stroessner, o segundo evoca, através dos corredores vazios de uma maternidade chilena, a memória silenciada dos sequestros de bebês durante a ditadura de Pinochet. Em comum, os quatro filmes convocam um cinema de evocação — de corpos vulneráveis, histórias apagadas e espaços relegados — que resiste ao esquecimento e reafirma, com urgência e beleza, a potência política e sensível do olhar latinoamericano.